Resolvi conhecer aquelas que ficam situadas mais próximas da sede. Iniciei a peregrinação pela capela de Nossa Senhora do Rosário, no Sítio Saco do Romão. Tudo começa em torno da residência da agricultora Luísa Rodrigues, que transformou o local onde morava numa Casa de Reza. Lá aconteciam novenas e missões. Depois que ela faleceu, a filha Maria Aparecida Rodrigues Pereira, 52, deu prosseguimento à religiosidade da mãe e junto com a comunidade ergueu uma capela e um cruzeiro no meio da vegetação típica da caatinga.
Uma casa aqui e outra acolá. Todo ano, no mês de outubro, a comunidade comemora a padroeira da capela, mas nada impede os devotos de também cumprirem o ritual dedicado a São Sebastião no mês de janeiro e que inclui o tradicional novenário. Na capela chamam a atenção o oratório de 1927 e uma gruta erguida ao lado em homenagem à Nossa Senhora de Lourdes, construída por um agricultor da comunidade como “pagamento” de promessa alcançada.
LENDAS
A viagem prossegue pelos caminhos da religiosidade. São muitas histórias ao longo do dia. A receptividade do sertanejo por onde você passa é marcante. Oferecem frutos da região, feijão e milho, frutos da colheita, tudo para agradar ao visitante. Ao longe o verde da serras, não tão secas devido às últimas chuvas, os animais no pasto e os agricultores arando a terra. A capela do Sagrado Coração de Jesus chega a ter uma certa imponência bem no meio da localidade chamada Saco dos Henriques, a 12 quilômetros do centro de Flores. A igrejinha mantém distribuídas pelas paredes as imagens da tradicional Via Sacra e conta com um grupo de jovens, que canta e toca durante as missas, realizadas uma vez por mês como nas demais capelas. Apesar de ter até sinos no alto da torre, o som deles é quase inexistente. Essa história do sino não tocar já virou uma espécie de lenda. Quem conta é a agricultora Cleide Magna Vieira de Queiroz, 49, que divide os cuidados sobre a igrejinha com a irmã Rita de Cássia Vieira, 53. Segundo ela, os sinos foram doados por uma família que reside em São Paulo. A família os doou, mas antes gravou o nome dela nos sinos. Diz a lenda, que quando se grava nomes no sino ele perde o som. Outra lenda bem interessante que o viajante escuta no trajeto fala que a cidade foi amaldiçoada por um padre no final dos anos 1940 por não ter sido bem aceito e perseguido pelos florenses. Dizem que Flores viveu momento difíceis e só foi se recuperar décadas depois.
O terreiro diante da igrejinha serve de palco para as comemorações não só relacionadas ao Sagrado Coração de Jesus mas ao São João e às festas de final de ano. No mês de maio, a capela é aberta todas as noites para que a comunidade reze o terço. “A existência da capela fortifica mais a comunidade”, conta Cleide Magna. O templo é usado para catequese, casamentos e batizados dos moradores do próprio Saco dos Henriques.
Ponto de encontro para os devotos
Na minha caminhada por estradinhas no meio da caatinga chamou a atenção a construção da capela de São José, no Sítio Saco do Romão. Maior que os demais e com uma certa imponência, o templo existe desde 2009. A história da construção dele desperta curiosidade. É fruto do esforço da agricultora Maria dos Anjos da Silva, de 78 anos, que debaixo do sol forte do Sertão bateu tijolo, carregou tijolo, água, brita, tudo que uma construção do porte exige e junto com a comunidade construiu a igrejinha. “Deus me deu forças para a missão”, revela. Dona Maria é devota fervorosa de São José, comemorado com novenário, procissão e com um animado bingo na parte profana, que tem prêmios curiosos como bolos e cabritos. “O povo daqui é muito fervoroso, sempre vem na igreja para agradecer alguma graça alcançada”, conta a guardiã do templo.
Tamanho fervor pode ser comprovado também no Centro da cidade. A conhecida “capela do Dr.Nezinho” é a única existente na área urbana do município. Foi construída em homenagem ao primeiro prefeito da cidade, o médico Manoel Santana Filho, cujos restos mortais estão depositados em jazigo no próprio templo.
Algumas curiosidades marcam a construção das capelas em Flores. Uma delas tem como padroeira Santa Teresa D´Ávila e fica no Sítio Volta dos Enjeitados. Outra é dedicada a São Jorge e está localizada no Sítio Macacos. Já a que fica no Sítio Caldeirão dos Bois, a 56 quilômetros do Centro, reúne o maior número de fiéis nas celebrações e conta, inclusive, com uma juventude missionária, segundo o padre Wellington Luiz Jacinto da Silva, 30, que até o final de janeiro celebrava missa uma vez por mês em cada uma das 39 capelas. “As capelas não são apenas um lugar de oração e de reflexão, mas é também onde a comunidade se encontra e troca informações”, diz padre Wellington. “Elas também congregam representantes de várias comunidades num mesmo local. Nas festas dos santos e nas novenas, uma comunidade vai ao encontro da outra convergindo para a capela”, pontua o religioso. A iniciativa de construção da maioria das capelas é atribuída ao monsenhor Francisco de Assis Magalhães Rocha, que atuou em Flores entre os anos de 1997 e 2001.